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domingo, novembro 30

Contribuições para a História Judaica de Portugal (I)

Pentateuco: O primeiro livro impresso em PortugalBiblia em Hebraico: o Primeiro Livro Impresso em Portugal
O primeiro livro impresso em Portugal saiu das oficinas tipográficas de D. Samuel Porteiro, um judeu de Faro, em 1487. Sensivelmente 30 anos após Johannes Gutenberg ter espantado o mundo ao imprimir em Mainz a sua famosa Bíblia, o primeiro livro a sair de uma tipografia portuguesa foi igualmente uma edição das escrituras sagradas... mas em hebraico. O Pentateuco – os cinco livros de Moisés que compõem a Torá, foi impresso recorrendo já a avanços em relação à tecnologia inventada por Gutenberg, entre os quais a utilização de caracteres metálicos móveis. O único exemplar conhecido desta edição ainda em existência encontra-se na colecção permanente da British Library, em Londres, que detém ainda outra obra pioneira em termos nacionais: o Comentário ao Pentateuco, do rabino medieval espanhol Moisés ben Nahman (Nachmanides), o primeiro livro impresso em Lisboa, igualmente em hebraico, editado por Eliezer Toledano em 1487.
D. Samuel Porteiro imprimiu ainda em Faro, em 1488, uma edição dos 22 volumes do Talmude, da qual restam apenas fragmentos, uma vez que a Inquisição ordenou a sua destruição depois de D. Manuel ter decretado a expulsão dos judeus do reino de Portugal (e consequente conversão forçada ao Catolicismo), em 1497.

A Eternidade de Fernando Assis Pacheco no Aniversário da Sua Morte
Estava em Londres a 30 de Novembro de 1995. Liguei para a redacção a avisar que a prosa da semana ia já a caminho. Foi então que me deram a notícia: Fernando Assis Pacheco tinha morrido. Mudara-me para Londres meses antes e ainda sentia na pele o peso da distância de Lisboa. A notícia da morte de Assis Pacheco deixou-me ainda mais só. Já lá vão oito anos.
“Estas efemérides são muito chatas porque, não tendo nós o dom da ressurreição, caímos não obstante num discurso tão próximo do evangélico que soa a falso.” – escreveu Assis sobre o aniversário da morte de Zeca Afonso no Jornal de Letras a 25 de Fevereiro de 1992. Agora, perante a possibilidade de fazer o mesmo, não lhe podia dar mais razão.
Conheci-o na redacção d’O Jornal no início da década de 90. Eu um novato. Ele um jornalista lendário. Tive a sorte de crescer no jornalismo com ele ao lado. E de lhe ouvir as histórias que contava ao fim do dia no seu pequeno cubículo da redacção na Avenida da Liberdade.
É quase irónico estar agora a escrever sobre ele, aqui do outro lado do mundo, num computador. Assis nunca usou o computador. Escrevia as melhores prosas de cada edição numa máquina de escrever manual, que acariciava com a mão esquerda enquanto o indicador direito matraqueava letra a letra.
Os antigos sábios judaicos escreveram no Talmude e no Zohar que quando morre um homem singular, a data da sua morte abre ciclicamente um alçapão cósmico que nos permite aspirar a imitar as suas qualidades. E o Assis tinha muito que imitar.
Fernando Assis Pacheco morreu como gostariam de morrer muitos escritores: numa livraria. Na Bucholz, em Lisboa. Já lá vão oito anos.


Fernando Assis Pacheco
Fernando Assis Pacheco (1937-1995)


COMO UM RELÂMPAGO VERDE
Nesse ano e mês chamaram de Lisboa
era o pai de meu pai
morrendo velozmente ao telefone
eu ouvia os gritos baterem
nas portas da cristaleira
quis chamar Deus para convencê-lo
a suspender o voo
mas já ia longe para lá de Alfeizerão (1)
espero agora que a monotonia e a chuva
tornem à minha vida
um pouco é de supor mais intrigante

(1) à velocidade soube depois
de 1.500 Mach
como um relâmpago verde


Fernando Assis Pacheco, Variações em Sousa