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quinta-feira, março 25

Ética

 Rabino Hillel, Pirke Avot, 2:6
“Num lugar sem humanidade,
aspira a ser humano.”

Rabino Hillel, Pirke Avot, 2:6


[NOTA] Lost in Translation: foi este apropriado título que o meu amigo José, autor do excelente blog Guia dos Perplexos, deu a um post onde me chamava a atenção para o facto da tradução inicial desta citação do rabino Hillel ser pouco clara em relação ao espírito do texto original. O José tem toda a razão. A minha primeira tradução limitava-se apenas a transvasar do hebraico para o português, esquecendo que a primeira obrigação de uma tradução eficiente não é a fidelidade cega às palavras, mas sim ao sentido nelas contido. Esta inepta tradução (diga-se em minha defesa, feita ensonadamente quase às três da madrugada) era a seguinte: “Num lugar sem gente, / tenta ser uma pessoa”, o que na prática se resumia a uma tradução palavra por palavra do hebraico à direita (que transliterado para o alfabeto latino dá “b’makom she-ein anashim / histadel lihiyot ish”). Mesmo traduzido desta forma, apesar das óbvias imperfeições linguísticas incapazes de repetir no português o imediatismo interpretativo alcançado no hebraico, a essência das palavras de Hillel continuava a fazer sentido – num espaço vazio, num vácuo ético, sê uma pessoa (com tudo o que isto implica). O hebraico não é das mais fáceis línguas de traduzir... o dicionário, por exemplo, define “ish” (composto pelas letras alef-yud-shin, איש, a última palavra do texto) como “homem, alguém, pessoa, qualquer pessoa”, e neste contexto o seu sentido pode ser ainda mais alargado – aqui o “ish” é o que nós em português designamos como “homem com ‘h’ grande”, aqui na sua significação mais plena no contexto da tradição espiritual do judaísmo: o Homem Ético.
Depois de algumas consultas, optei pela tradução que postei acima, que julgo ser um compromisso razoável entre as palavras do hebraico original e o sentido intrínseco que o rabino Hillel, há mais de dois mil anos, terá tentado com elas transmitir. A hipótese sugerida pelo José, feita a partir de uma tradução inglesa, apesar de estar absolutamente correcta quanto ao sentido, na minha opinião, foge um pouco ao original do texto hebraico pela opção de vocábulos.
Autor de um blog com o nome da obra maior de um dos grandes pensadores judaicos de todo os tempos, o rabino medieval ibérico Moses ben Maimon, (Maimonides), o José, apesar de católico romano, fica desde já promovido a judeu honorário aqui na Rua da Judiaria. Obrigado José. Pelas leituras. Pela atenção. E pela tua boa vontade. Shalom chaver!