<$BlogRSDUrl$>

sexta-feira, dezembro 19



HANUKÁ SAMEACH!


Ao cair da noite de hoje inicia-se a celebração da festa judaica de Hanuká (pronunciado ránuká), o Festival da Luzes, que irá prolongar-se por oito dias. Os sábios do Talmude realçam que esta é uma celebração de alegria, e durante os oito dias os judeus não podem jejuar ou usar sinais de luto.
Em termos históricos, Hanuká assinala o aniversário da rededicação do Templo, no ano 167 AEC*, depois da vitória do pequeno exército israelita hasmoneano, que encabeçou a revolta dos Macabeus, sobre o poderoso exército greco-sírio liderado pelo imperador Antiocus IV.
Anos antes, assim que ascendera ao trono, Antiocus dispusera-se a destruir o judaísmo, tornando a observância religiosa um crime punido com pena de morte. Registos históricos contam que mães descobertas após terem circuncisado os filhos em segredo, seguindo as leis judaicas, eram mortas com as crianças.
O sucesso da revolta dos Macabeus devolveu aos revolucionários hasmoneanos judeus o controlo de Jerusalém e do Templo Sagrado, que durante anos tinha sido profanado continuamente. Antiocus mandara erigir no Templo – o mais sagrado santuário do judaísmo – uma estátua a Zeus, e ordenara que ali fossem sacrificados porcos, numa tentativa de humilhar os judeus. No dia 25 do mês hebraico de Kislev, no ano de 167 AEC*, o Templo foi finalmente restaurado e rededicado.
Segundo a tradição judaica, os soldados apenas encontraram um contentor de azeite que não tinha sido contaminado, selado ainda com o selo do sumo-sacerdote. Mas a quantidade de azeite encontrada não era suficiente para iluminar a Menorá, o candelabro de sete braços portador da chama eterna no Templo. Mesmo assim, o pouco azeite disponível – suficiente para apenas um dia – ardeu milagrosamente durante oito dias consecutivos, permitindo que a Menorá se mantivesse acesa até que mais azeite fosse fabricando seguindo as restritas regras para uso no Templo. O festival de Hanuká celebra este milagre, continuamente comemorado pelos judeus há mais de dois mil anos.
Mas o próprio conceito de “festivais” no judaísmo transcende a mera representação de “aniversário” ou “comemoração” – eles são muito mais do que simples ocasiões para celebração. E Hanuká não é uma excepção. Para os sábios cabalistas, os oito dias de Hanuká apresentam-se como uma oportunidade singular para a evolução espiritual individual. Segundo o rabino seiscentista Isaac Luria, todos os anos, ciclicamente, nos dias de Hanuká existe à nossa volta a presença da mesma força cósmica que permitiu o milagre do azeite da Menorá do Templo. De acordo com o simbolismo da Cabalá, a palavra “luz” assume-se, acima de tudo, como um código de representação do Divino e Hanuká simboliza a elevação do espírito acima das condicionantes “espaço/tempo” perceptíveis pelos cinco sentidos.
Nas últimas décadas, especialmente nos Estados Unidos, o Festival de Hanuká começou a ser encarado como uma espécie de “versão judaica” do Natal, em grande medida por se celebrarem mais ou menos na mesma altura (as datas do calendário hebraico nem sempre coincidem com as do calendário civil), e pela “imersão natalícia” a que são sujeitos os judeus que vivem em países maioritariamente cristãos. Tal como o Natal, Hanuká tem assistido a uma crescente onda de comercialização, e hoje em dia é comum os pais oferecerem prendas às crianças durante os oito dias de celebração. Curiosamente, em Portugal algumas comunidades de “judeus secretos” (cristãos-novos) continuaram a celebrar o festival de Hanuká às escondidas, chamando-lhe “Natalinho”. No livro “Os Judeus Secretos de Portugal”, Eduardo Mayone Dias relata que essa prática fez parte da tradição da comunidade cripto-judaica de Belmonte até ao seu retorno ao judaísmo “aberto” e oficial, durante as décadas de 80 e 90.

* Antes da Era Comum