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terça-feira, janeiro 6


Um Adeus a José Dias Bravo


Soube ontem, por mero acaso, da morte de José Dias Bravo, faz agora dois meses. Não tenho jeito nenhum para necrologias, confesso, mas senti que tinha de escrever pelo menos umas breves linhas.
Jurista, Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, Vice-Procurador Geral da República e presidente da Aliança Evangélica, Dias Bravo foi uma figura fundamental para a definição do protestantismo português do século XX. Perseguido pela PIDE desde os 16 anos por distribuir Bíblias e folhetos religiosos não católicos, lutou desde cedo contra a hegemonia religiosa nacional e a intolerância por outras igrejas e religiões, características que durante séculos marcaram o nosso país. A sua biografia oficial, no site da AE, conta que aos 12 anos foi expulso inúmeras vezes das aulas de Religião e Moral, por desafiar abertamente o padre-professor, citando escrituras e contrapondo as doutrinas que devia aprender. Como magistrado e presidente da Aliança Evangélica, anos mais tarde, seria um dos responsáveis pela gradual mudança da imagem das igrejas protestantes em Portugal.
Pessoalmente, conheci-o em 1994, na Procuradoria, andava eu, jornalista novato, a tentar especializar-me a escrever sobre religião. Na altura, procurei os comentários e conselhos de Dias Bravo para várias peças e reportagens. Na sua bondade natural e infinita paciência, esteve sempre disponível. Pelo meio foi-me contando histórias do seu protestantismo, da sua fé.
Nos últimos anos da sua vida, já reformado, Dias Bravo dedicou-se a viajar pelo mundo, conheceu os meus tios numa visita a Israel e ficou amigo da família. Com ele aprendi os pontos de contacto existentes entre as experiências dos protestantes e dos judeus portugueses. Ensinou-me também que os preconceitos, fobias e ódios dos outros podem ser gradualmente vencidos, nunca na mesma moeda, mas através do exemplo de homens como ele. José Dias Bravo foi verdadeiramente um hasidei umot ha'olam.