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terça-feira, fevereiro 24

Jogar Xadrez

Escolher um filme preferido, apenas um de entre muitos, é uma tarefa perfeitamente fútil. No cinema, tal como nos livros, prefiro a multiplicidade de amores. De entre os que verdadeiramente gosto, um ou outro salta à memória consoante os dias, os humores, a chuva ou o sol. Hoje lembrei-me de um desses filmes que guardo no meu baú de paixões – Os Jogadores de Xadrez (Shatranj Ke Khilari – The Chess Players) de Satyajit Ray.
Baseado num conto do escritor indiano Munshi Premchand, Os Jogadores de Xadrez é uma metáfora sublime e um dos meus filmes favoritos. Nele, dois amigos, Mirza Sajjad Ali e Mir Roshan Ali (magnificamente encarnado por Saeed Jaffrey, que anos mais tarde daria corpo a Nasser, o tio corrupto de My Beautiful Laundrette), abstraem-se por completo do mundo à sua volta e passam os dias a jogar xadrez. Talvez seja por causa do céu encoberto e da tonalidade cinzenta do dia, mas hoje percebo bem os personagens de Ray.
Hoje leio este artigo de Vital Moreira. Recordo este outro, de Emanuele Ottolenghi no Guardian, e ainda este, um texto notável de Miriam Greenspan. Leio também este, e mais este. Depois penso, por exemplo, na frase de Zeca Afonso que ontem transcrevi e em quantas das nossas “verdades” quotidianas nos são simplesmente fornecidas, pré-mastigadas, e já digeridas. Às vezes apetece-me responder. Calmamente. Hoje não. Hoje, apetece-me simplesmente jogar xadrez.