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quarta-feira, março 17

Jacob Rodrigues Pereira – judeu português, pedagogo e investigador pioneiro no estudo da linguagem gestualContribuições para a História Judaica de Portugal VI

Jacob Rodrigues Pereira


Jacob Rodrigues Pereira (1715-1780), pedagogo e investigador, judeu português do século XVIII, foi pioneiro no ensino de surdos mudos e na criação da linguagem gestual. Nascido em Peniche no seio de uma família judia com raízes em Chacim, Macedo de Cavaleiros, emigrou ainda criança para França levado pelos pais, Magalhães Rodrigues Pereira e Abigail Ribea Rodrigues, que tentavam escapar à Inquisição. A família instala-se definitivamente em Bordéus, onde existia já uma considerável comunidade de judeus portugueses. É aqui que Jacob, com seis anos, é submetido ao Brit Milá (circuncisão), um ritual que a Inquisição proibira em Portugal sob pena de morte.
Tido como um dos maiores pedagogos do século XVIII, Jacob Rodrigues Pereira ingressou na Academia, onde veio a ter admiradores e amigos entre as grandes figuras da cultura e das ciências francesas da época, entre os quais se destacam Georges-Louis Leclerc, conde de Buffon (1707-1788).
O seu estudo “Observations sur les sourds-muets”, publicado em Paris 1762, é considerado o primeiro trabalho científico alguma vez escrito sobre surdos mudos e valeu-lhe uma pensão vitalícia concedida pelo rei Luís XV. Na sequência da sua investigação, Jacob Rodrigues Pereira viria a desenvolver os primeiros esboços da linguagem gestual, permitindo a comunicação com os surdos mudos, até então considerados “doentes mentais” pelas doutrinas dominantes. Jacob Rodrigues Pereira está sepultado no cemitério Judaico de Villette, em Paris.
Tal como outros judeus portugueses forçados ao exílio, o nome de Jacob Rodrigues Pereira é virtualmente desconhecido em Portugal. Isto apesar de ter sido fundado em Lisboa, em 1834, o Instituto Jacob Rodrigues Pereira, pioneiro no ensino de surdos em Portugal e hoje integrado na Casa Pia de Lisboa. Com uma presença na Internet, o Instituto não faz menção alguma ao homem que inspirou a sua criação.
Os descendentes de Jacob Rodrigues Pereira mantiveram-se em França, onde acabariam por afrancesar o nome para Pereire no início do século XIX. Um dos mais conceituados membros desta família de judeus portugueses emigrados foi Jacob Émile Pereire (1800-1875), bisneto de Jacob Rodrigues Pereira, banqueiro e parlamentar nascido em Bordéus. Em 1835 Jacob Émile foi o responsável pela construção do caminho de ferro entre Paris e Saint Germain e mais tarde fundou, com o seu irmão Isaac, a Société Générale de Crédit Mobilier, que haveria de tornar-se a maior instituição bancária de França. Os dois irmão (ver Connaissez-vous vraiment les frères Pereire ?) viriam a criar também, em 1855, a Compagnie Générale Transatlantique (ver também French Line), a primeira empresa marítima francesa a assegurar carreiras de vapores regulares entre Nova Iorque e o Havre. O seu navio Pereire era então o mais rápido do Atlântico, assegurando em 1867 a travessia entre França e os Estados Unidos em oito dias e 16 horas. Quando o Crédit Mobilier entrou em falência, Jacob Émile entregou 16 milhões de dólares do seu próprio bolso para evitar o colapso da instituição. Quando morreu, a fortuna de Jacob Émile Pereire era estimada em mais 60 milhões de dólares.
Uma avenida em Paris (e uma estação de metro), próximo de Champs-Elysées, ostenta hoje o nome da família. Os Pereire converteram-se ao catolicismo nos finais do século XIX, por “questões sociais”, como forma de fazer face ao antisemitismo francês. Mesmo assim, a família continuou a manter laços estreitos com a comunidade judaica francesa.

Praça Jacob Rodrigues Pereira, Peniche (postal ilustrado de 1909)
Praça Jacob Rodrigues Pereira, Peniche (postal ilustrado de 1909)

Boulevard Pereire, em Paris
Boulevard Pereire, em Paris.