<$BlogRSDUrl$>

segunda-feira, maio 31

Músicas da Judiaria III


 Richard KaplanFoi hoje actualizada a canção das Músicas da Judiaria, uma rubrica permanente já na sua terceira edição. Esta semana, os leitores da Judiaria podem ouvir Richard Kaplan (na foto), um etnomusicólogo que dedicou a sua carreira a estudar e interpretar a música tradicional dos judeus da Diáspora. A canção escolhida é Hallelu Avdey Adonai (Adorai, Servos do Senhor), uma composição litúrgica tradicional dos judeus iraquianos – uma canção responsorial que segue a ordem crescente do alfabeto hebraico na enumeração dos atributos do Criador: “Bendito dos Benditos”, “Antigo dos Antigos”, “Santo dos Santos”. O refrão é retirado da primeira linha do Salmo 113.

Edições anteriores das Músicas da Judiaria:
I - Shlomo Bar e os Habrera Hativeet (canção: “Yeladim Ze Simcha” / II – Suzy (Herencia (canção: “Mar de Leche”)

Os Judeus do Iraque

Hallelu Avdey Adonai, da edição desta semana das Cantigas da Judiaria, pertence à tradição litúrgica dos judeus do Iraque, uma comunidade milenar, cuja origem remonta à deportação das “Dez Tribos” que habitavam o Reino do Norte de Israel, no século VIII AEC*. A população judaica da Babilónia – terra natal do Patriarca Abraão – sofreu um aumento significativo, após a destruição do Primeiro Templo por Nabucodonosor, com a deportação forçada de centenas de milhar de judeus, em 586 AEC. Mais tarde, a mesma comunidade receberia novos influxos de refugiados, especialmente após a Judeia ter deixado de ser um estado independente, sob o braço de ferro de Vespasiano e Tito, no ano 70, e depois do esmagamento da revolta de Bar-Kochba, no ano 135.
Devido às condições de tolerância relativa em que viviam os judeus na Babilónia, a comunidade prosperou e por alturas da destruição do Segundo Templo era já composta por cerca de um milhão de pessoas.
Culturalmente, os judeus da Babilónia rapidamente ultrapassaram os seus congéneres que permaneceram na terra natal da Judeia. O Talmude da Babilónia (distinguindo-se do Talmude de Jerusalém) foi composto no seio desta comunidade e continuamente ensinado em academias judaicas em Sura, Pumbeditha e Nehardea. Os judeus da Babilónia dominaram cultural e religiosamente o mundo judaico até ao século XI, altura em que a comunidade começou a entrar em declínio, eclipsada agora pelos judeus da península Ibérica.
A partir do século XVIII, os judeus de Bagdade, e de toda a Mesopotâmia, começaram a ser vítimas de uma repressão crescente por parte dos líderes islâmicos. No início do século XIX, muitos judeus iraquianos emigraram para a Índia, para a China e para a Europa Ocidental.
Após a criação do estado de Israel, os judeus iraquianos sofreram novas perseguições e pogroms, uma situação que deu origem, em 1951, a uma gigantesca “ponte aérea” de emigração para Israel (ver Operations Ezra & Nechemia: The Aliyah of Iraqi Jews). De um total de mais de 150 mil em 1948, actualmente residem ainda no Iraque apenas 34 judeus.

* Antes da Era Comum, designação “religiosamente neutra” adoptada pelos historiadores em detrimento de “Antes de Cristo”
 Escrituras sagradas judaicas em Bagdade após a invasão
Escrituras sagradas judaicas recuperadas em Bagdade, em finais de 2003, após os motins e pilhagens que marcaram as semanas seguintes à queda do regime de Saddam Hussein.

A LER: The Scribe - Journal of Babylonian Jewry / Iraqi Jews fight for Independence in the Arab Revolt of 1916-18 / The Search for a Talmud in Baghdad / The Few Remaining Jews in Baghdad / Baghdadi Jews in Shanghai / Reason: Babylonian Hostility: In Iraq, the Jews - and anti-Semitism - are everywhere / From the Kitchen of Babylonian Jews.