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terça-feira, junho 8

As Causas dos Atentados Suicidas


As causas dos Atentados SuicidasCom os atentados suicidas a aumentarem no Iraque, na Arábia Saudita, e em Israel, um número crescente de pessoas acredita agora que esta é uma táctica resultante do desespero. Segundo estes, existe uma ligação directa entre opressão, a ocupação, a pobreza e a humilhação, por um lado, e a disposição para cometer atentados suicidas em nome de uma causa comum, por outro. Segundo este raciocínio, a solução óbvia para o problema passa por resolver a sua causa de raiz – a opressão.
Mas esta premissa é falsa: esta relação histórica ou de facto não existe. Os atentados suicidas são uma táctica escolhida por elitistas abastados, privilegiados, com educação superior, porque esta se tem provado eficaz.
Alguns dos bombistas suicidas desafiam mesmo o estereotipo das vítimas empobrecidas da ocupação, levados a medidas desesperadas pela opressão americana ou israelita. Lembrem-se dos autores dos atentados de 11 de Setembro, alguns deles estudantes universitários e nenhum deles oprimido pelos Estados Unidos. O seu líder era um multimilionário saudita chamado Osama bin Laden.
Bin Laden tornou-se um herói para muitos membros da classe “média-alta” saudita, que agora se oferecem como shahids (“mártires”) no Iraque, em Israel, e noutras partes do mundo.
Majid al-Enizi, um estudante saudita que sonhava ser técnico de informática, recentemente alterou os seus planos de carreira para se tornar um mártir; viajou para o Iraque, onde acabou por morrer. O seu irmão Abdullah congratulou-se com a decisão: “Recebemos telefonemas de pessoas que nos felicitam, chorando de alegria e inveja. Há muitos jovens que desejam ir para o Iraque, mas não conseguem lá chegar. Graças a Deus que ele conseguiu.”
Estes meninos ricos glorificam uma cultura do suicídio, mesmo em lugares distantes. Tuffull al-Oqbi, estudante na prestigiada King Saud University, conta que jovens estão agora a usar t-shirts estampadas com a fotografia de bin Laden da forma como a minha geração usou camisolas com Che Guevara. Segundo notícias recentes, jovens mulheres oriundas de famílias abastadas usam t-shirts com bin Laden debaixo das suas abayas para demonstrar o seu apoio aos apelos de resistência contra os Estados Unidos.
Que razão leva estes jovens, rapazes e raparigas, privilegiados economicamente e com formação superior a apoiarem esta cultura da morte, enquanto povos empobrecidos e oprimidos como os tibetanos continuam a celebrar a vida apesar de ocupados pela China há mais de meio século?
Porque razão outros povos oprimidos ao longo da história nunca recorreram a atentados suicidas e ao terrorismo? A resposta reside nas diferenças existentes entre as elites de liderança dos diversos grupos e causas. Os líderes da causa radical islâmica, em especial os wahabitas, advogam e incitam o terrorismo suicida, enquanto os líderes de outras causas defendem outros métodos.
Basta recordar Mahatma Gandhi e Martin Luther King, líderes de povos verdadeiramente oprimidos que sempre defenderam meios não-violentos de resistência. São os líderes quem escolhe os atentados e envia os suicidas. Nenhum bombista suicida decide cometer um atentado por iniciativa própria.
Os suicidas aceitam a morte porque são incitados num frenesim de ódio por imams que pregam “morte aos infiéis”. O Sheikh Muhammad Sayed Tantawi, professor de Estudos Islâmicos da prestigiada Universidade Al-Azhar, do Cairo (uma cidade que não está “sob ocupação”), declarou que as “operações de martírio” – ou seja os atentados suicidas – são a mais elevada forma de jihad e por isso um mandamento islâmico.
Mesmo “modelos moderados”, como a mulher de Yasser Arafat, que mora numa mansão milionária em Paris, disse que se tivesse um filho queria que ele se tornasse um bombista suicida, porque não existe honra maior do que ser um mártir.
Crianças e jovens, alguns com 12 ou 13 anos, são incitados e seduzidos a colocarem coletes com bombas no corpo por estas elites dirigentes, mais velhas e melhor instruídas. Às crianças prometem-se virgens no céu, elogios e dinheiro para as suas famílias, e posters que os celebram como se fossem estrelas de rock. É uma combinação irresistível para alguns, e a culpa assenta unicamente nos elitistas que os exploram, que os usam, e que eventualmente os matam.
Não existe qualquer tipo de provas que apoie a existência de uma relação directa entre ocupação e atentados suicidas. Na realidade, qualquer ocupação torna mais difícil a tarefa de orquestrar esses ataques. Não digo isto para defender a ocupação, mas unicamente para separar os argumentos daqueles que afirmam que é a ocupação, e a subsequente repressão, que causa os atentados suicidas.
Na verdade, se Israel terminasse a ocupação de Gaza e da Margem Ocidental (como eu há muito tenho defendido), é provável que os actos de terrorismo aumentassem, à medida que os comandantes terroristas alcançam mais liberdade para planear e executar acções terroristas. O mesmo poderá ser verdade no caso do Iraque, caso os Estados Unidos retirassem intempestivamente.
Chegou a altura de fazer frente às reais causas de raiz dos atentados suicidas: o incitamento elitista por parte de certos líderes religiosos e políticos, que estão a criar uma cultura da morte e exploram ensinamentos ambíguos de uma importante religião.
Abu Hamza recentemente exortou uma larga multidão em Londres a “abraçar a morte”. Jovens islâmicos estão enamorados pela morte, defendem alguns influentes imams; mas são estes lideres quem está a “arranjar casamentos” entre as crianças e os coletes com bombas.
Talvez agora, que os bombistas suicidas atacam a Arábia Saudita, líderes islâmicos responsáveis perceberão que é o seu povo quem acaba por ser a maior vítima desta cultura da morte tacitamente imposta.

Alan Dershowitz, professor de Direito da Universidade de Harvard e autor do livro Why Terrorism Works: Understanding the Threat, Responding to the Challenge. Este artigo foi publicado recentemente no Guardian e na última edição impressa do semanário Jerusalem Post.

NOTA: Ao contrário do que à primeira vista possa parecer, especialmente aos olhos dos que lerem este artigo à luz de noções estereotipadas, Alan Dershowitz não é “neoconservador”, apoiante de Bush ou de Sharon. Tido como um dos mais conceituados constitucionalistas americanos, Dershowitz é membro da “ala esquerda” do Partido Democrata e foi apoiante activo da candidatura de Al Gore em 2000. Durante os últimos anos tem sido um opositor incondicional das políticas de restrição dos direitos cívicos impostas por George W. Bush nos EUA, nomeadamente através do Patriot Act. Sobre este tema, aconselho a leitura do artigo Assault on Liberty: Military Justice Is to Justice as Military Music Is to Music, publicado por Alan Dershowitz no semanário nova-iorquino Village Voice.