<$BlogRSDUrl$>

sexta-feira, junho 11

Músicas da Júdiaria IV


 Moshe Leiser (voz e guitarra), Ami Flammer (violino) e Gérard Barreaux (acordeão)Na edição desta semana das Músicas da Júdiaria presta-se homenagem à tradição musical popular e à língua dos judeus da Europa Central e de Leste, o yiddish. À semelhança do ladino – a língua franca dos judeus de tradição ibérica –, o yiddish é também uma língua mesclada, feita de palavras tomadas primariamente de empréstimos do alemão e do hebraico. Enquanto língua viva, o yiddish florescera dos dois lados do Atlântico.
Com o fluxo migratório gerado antes e durante a Segunda Guerra Mundial, a língua que apaixonara Franz Kafka muda o seu epicentro da Europa para os Estados Unidos. Em Nova Iorque, o yiddish aparece intimamente ligado a manifestações culturais da vasta comunidade judaica – da literatura ao teatro, passando pela música e pela rádio. Era a língua materna de George Gershwin.
Para ter uma ideia da importância do impacto do yiddish na cultura popular americana aconselho vivamente a audição de uma reportagem radiofónica efectuada pela National Public Radio (disponível aqui em formato RealAudio).
Aos poucos, o yiddish foi perdendo notoriedade, correndo mesmo risco de extinção. O Shoá (Holocausto) e o desaparecimento progressivo das gerações que tinham no yiddish a sua língua materna – aliado ao ideal nacionalista israelita de fazer do hebraico a língua nacional – quase condenaram o yiddish (e também o Ladino) ao desaparecimento.
Em 1985, um grupo de três jovens músicos judeus residentes em Paris (na foto), resolveu tentar resgatar a língua moribunda dos seus pais gravando um conjunto de canções populares dos judeus da Europa Central e de Leste. Moshe Leiser (voz e guitarra), Ami Flammer (violino) e Gérard Barreaux (acordeão), todos com formação clássica gravaram então “Chansons Yiddish – Tendress et Rage”. O yiddish não era a “língua primária” de nenhum deles, mas todos tinham crescido a ouvir o idioma falado e cantado pelos pais. A gravação contém, de forma perfeitamente assumida, alguns erros de pronúncia, mas, mais do que forma, é o espírito que importa.
Actualmente, Moshe Leiser, o vocalista, é director artístico da Welsh National Opera, de Cardiff, depois de ter desempenhado funções idênticas no Grand Théâtre de Genève, Opéra de Lyon, Théâtre des Champs-Elysées e no Teatro Mariinsky, de São Petersburgo, entre outras companhias. Na Welsh National Opera, Moshe Leiser dirige este Verão La Traviata, de Verdi.
Por último, não resisto à tentação de dedicar a canção desta semana das Músicas da Judiaria a Rui Zink, que em 1993 me ofereceu uma cassete onde gravara "Chansons Yiddish - Tendress et Rage". É a ele que devo o meu primeiro contacto com estas notáveis cantigas de ternura e raiva. Obrigado Rui.

A VISITAR: Yiddish Radio Project / National Yiddish Book Center / Vilnius Yiddish Institute / Shtetl, Yiddish Language and Culture / Yiddishkeit (palavras e expressões em yiddish traduzidas para o inglês) / The Spoken Yiddish Language Project / Yiddish-Hebrew-English-German-Russian-French Picture Dictionary