<$BlogRSDUrl$>

terça-feira, julho 6

Maestro Álvaro Cassuto: O Completar do Círculo


Maestro Álvaro Cassuto, ou a saga de uma família de judeus portugueses Álvaro Cassuto, um dos mais conceituados maestros portugueses da actualidade, é dos poucos judeus portugueses que se pode gabar de ter completado um ciclo de história familiar iniciado com a saída ancestral da sua família de Portugal, em meados do século XVI.
Movida pelo antisemitismo institucional que vigorava em Portugal – exacerbado pelo decreto de conversão forçada, de 1497, e posteriormente pelas perseguições inquisitoriais –, a família Cassuto seguiu as pisadas de um grande número de outros judeus lusitanos e fixou-se primeiro em Livorno, em Itália, e depois em Amsterdão, que na época contava já com uma florescente comunidade de judeus portugueses. Amsterdão seria durante mais dois séculos o destino natural dos judeus (e “cristãos-novos” convertidos à força) que abandonavam Portugal em busca de uma segurança que a sua terra natal teimava em negar-lhes.
No início do século XIX, a família Cassuto vai viver para Hamburgo, na Alemanha, onde se integra na comunidade de judeus portugueses ali radicada. Aos poucos, os Cassuto começam a aparecer ligados à vida espiritual e cultural dos judeus portugueses de Hamburgo – Jehuda Cassuto assume as funções de hazzan (condutor da liturgia) na sinagoga da comunidade, enquanto o seu filho, Issac (bisavô do maestro Álvaro Cassuto), se dedica a escrever e traduzir tratados sobre a história da diáspora dos judeus portugueses.
A 1 de Abril de 1933, no mesmo dia em que o recém eleito regime germânico nazi decreta o boicote ao comércio detido por judeus, a família Cassuto abandona a Alemanha e, depois de uma breve passagem por Amsterdão, regressa a Portugal, a sua terra ancestral. O maestro Álvaro Cassuto nasce no Porto, em 1939. O seu pai, Alfonso Cassuto (1910 – 1990), historiógrafo apaixonado e ávido coleccionador de manuscritos antigos, estuda e escreve sobre a herança histórica e cultural dos judeus portugueses.
Álvaro Cassuto estudou direcção de orquestra com os mestres Pedro Freitas Branco, Herbert von Karajan, Franco Ferrara e Obi Kapellmeister. Em 1969 foi o vencedor do galardão Koussevitzky, tido como o mais importante prémio internacional para jovens maestros. Entre 1970 e 1992 dirigiu a Orquestra Sinfónica da RDP, posto o que fundou a Nova Filarmónica Portuguesa, em 1993. Entre 1993 e 1999 dirigiu ainda a Orquestra Sinfónica Portuguesa e actualmente é o maestro titular da Orquestra do Algarve. Álvaro Cassuto viveu ainda 18 anos nos Estados Unidos, onde foi professor de música na Universidade da Califórnia e director musical da Rhode Island Philharmonic e da National Orchestra of New York, antes de regressar definitivamente a Portugal em 1986. Entre outras, o maestro Álvaro Cassuto conduziu a Orquestra Sinfónica de Jerusalém e a Ra'anana Symphonette de Israel.
Durante toda a sua carreira, o maestro Álvaro Cassuto tem sido um dos principais divulgadores da obra do compositor português Joly Braga Santos, seu amigo e colega.


Rosy e Jehuda Leon Cassuto, (foto à esquerda) “regressam” a Portugal em 1933.
Isaac Cassuto (1848-1923), bisavô do maestro Álvaro Cassuto (foto à direita).


Pedra tumular da sepultura de Alfonso Cassuto (1910-1990), pai do maestro Álvaro Cassuto. Cemitério Judaico de Lisboa.