sexta-feira, julho 2
Um Ano de Adufe
“Informação literária e iconográfica testemunha que o “tambor quadrado” [Adufe], que consiste num pedaço de pele curtida esticado sobre uma moldura quadrada, era um instrumento bastante popular entre mulheres trovadoras das comunidades judaicas e islâmicas da península Ibérica medieval. Devido ao facto do instrumento ser associado às mulheres e às culturas semitas “infiéis”, a sua representação em bíblias e portais de catedrais ibéricas dos séculos XII e XIII era, dependendo do contexto, invariavelmente associada ao judaísmo, ao “Outro” pagão ou ao simbolismo messiânico. A representação do instrumento na iconografia cristã medieval é produto de uma prática artística anterior de modernizar e secularizar os instrumentos musicais mencionados nas escrituras. Uma vez que o adufe era tocado por mulheres e judeus resolveu-se o problema de representar um tambor descrito na Torá, um instrumento tocado maioritariamente por mulheres chamado tof (traduzido na Vulgata como tympanum). Assim, em manuscritos como a Bíblia de Pamplona, ele é representado na adoração do bezerro dourado e na “fornicação” das mulheres moabitas, enquanto o portal da catedral de Burgos o mostra nas mãos de um dos profetas do Antigo Testamento.”
in “The square drum as a Semitic and messianic symbol in medieval Spanish iconography”, Mauricio Molina, City University of New York. Trabalho apresentado na conferência “Music in Art: Iconography as a Source for Music History”. Dedicado ao Rui M. Cerdeira Branco. Parabéns!