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segunda-feira, setembro 6

100 anos



A Comunidade Judaica de Lisboa celebra esta semana o centenário da Sinagoga Shaaré Tikvá (Portas da Esperança). Menos de um século decorrido sobre o fim da Inquisição, 50 anos depois do retorno dos primeiro judeus ao país, os judeus portugueses começavam a voltar as páginas de um passado feito de perseguições, massacres e tribulações.
Em 1904, a abertura da Sinagoga de Lisboa simbolizava um “regresso formal” dos judeus a Portugal, depois da “expulsão” de 1497 e da consequente conversão forçada ao catolicismo. Antes da agora centenária Shaaré Tikvá, a última sinagoga construída em Portugal fora a Sinagoga de Gouveia, inaugurada a 9 de Setembro de 1496, o dia de Rosh Hashana – o ano novo judaico –, poucos meses antes de D. Manuel promulgar o decreto de expulsão, a 5 de Dezembro do mesmo ano. Descoberta acidentalmente em 1967, uma pedra de granito da velha sinagoga enunciava em hebraico:

A glória desta casa última será maior do que a antiga / disse Adonai [Senhor] dos Exércitos; terminada foi a nossa santa e gloriosa casa neste ano: e os resgatados do Senhor voltarão a Sião com alegria.”
A última palavra hebraica desta inscrição – be-riná (com alegria) – dá-nos a data segundo a fórmula judaica tradicional, através do valor numérico das letras: o ano 5257 do calendário judaico (1496). A pedra de granito da Sinagoga de Gouveia, que em tempos encimara a ombreira da sua porta, fora ao mesmo tempo um epitáfio e uma profecia. Uma profecia que os judeus portugueses cumpririam 408 anos mais tarde, inaugurando em Lisboa a Sinagoga Shaaré Tikvá.

::Ilustração:: Postal mostrando o interior da Sinagoga Shaaré Tikvá (cerca de 1910), impresso e distribuído por Cohen & Cª, da Rua do Arsenal, em Lisboa. A fotografia é da autoria de um judeu português: Joshua Benoliel(1873-1932), conhecido como o “pai” do fotojornalismo em Portugal. Joshua Benoliel será um dos homenageados nas cerimónias oficiais da comemoração do centenário.