segunda-feira, setembro 27
A IURD e os Símbolos Judaicos

Há muito que a IURD faz uso de “amuletos” vários, como pequenos frascos com “água do rio Jordão”, que vende aos fiéis alegando que estes possuem poderes de “protecção” e “cura”. Agora, a “igreja” fundada pelo ex-funcionário da lotaria federal brasileira Edir Macedo Bezerra resolveu transformar em amuleto seu um dos símbolos máximos do judaísmo: a mezuzá.
Tradicionalmente, a mezuzá é colocada nas ombreiras das portas das casas onde moram judeus como símbolo do cumprimento da Lei de Moisés. Por si só, a mezuzá é uma pequena caixa – que pode ser de madeira, pedra, metal ou plástico – contendo um pergaminho manuscrito com a oração Shemá Israel, a declaração de fé do judaísmo.
No Brasil, a Igreja Universal começou agora a vender mezuzot (apenas as “caixas”, sem pergaminho) aos seus fiéis para “protecção do lar”. Esta manobra de marketing religioso tem irritado vários rabinos, que acusam a “igreja” de apropriação indevida de símbolos religiosos alheios com nítidos objectivos de lucro.
A Igreja Universal do Reino de Deus é uma organização sincrética fortemente inspirada na chamada “teologia da prosperidade” e “confissão positiva”, uma corrente pós-evangélica popularizada nos Estados Unidos por “tele-evangelistas” como Benny Hinn ou Jimmy Swagger, e em Portugal por Jorge Tadeu da Igreja Maná. Segundo alguns teólogos, é neste sincretismo, onde se misturam crenças diversas com superstições populares fortemente enraizadas, que reside o segredo do sucesso da Igreja Universal: em vez de impor novas regras aos crentes, a IURD cria as suas normas em torno das crenças dos seus fiéis.
A utilização de símbolos judaicos pela IURD no Brasil pode estar relacionada com a crescente popularidade das chamadas “igrejas messiânicas” – instituições religiosas cristãs que proclamam um retorno aos rituais judaicos como forma de contextualizar o messias cristão nas suas raízes judaicas (ver :: Rua da Judiaria :: Jesus, o Judeu ).
O apego dos judeus ao simbolismo da mezuzá ficou bem patente, por exemplo, depois da conversão forçada dos judeus portugueses, em 1497. Forçados a esconder qualquer sinal exterior de judaísmo, os cripto-judeus ocultavam a mezuzá dentro de estátuas de santos católicos. Ao entrar em casa, estes “cristãos-novos” beijavam a mezuzá – agora escondida dentro dos santos – cumprindo um duplo propósito: manter a antiga tradição judaica de beijar mezuzá e mostrar aos vizinhos cristãos-velhos a “devoção” aos santos católicos.