<$BlogRSDUrl$>

terça-feira, dezembro 7


Bob Dylan

Músicas da Judiaria VI
Bob Dylan


Bob is Back. Por ocasião do lançamento (nos EUA e Reino Unido) do primeiro volume das memórias de Bob Dylan, a 6ª edição das Músicas da Judiaria – agora “revista e aumentada” – recuperou aquela que é talvez a mais emblematicamente judaica das canções de Dylan: Neighborhood Bully, do álbum Infidels, de 1983, um tema onde Bob Dylan demonstra uma profunda afinidade e identificação com o povo judeu e com Israel. Ao mesmo tempo, Neighborhood Bully assume-se como um violento ataque ao antisemitismo e ao anti-sionismo.
Mas a relação de Dylan com o seu judaísmo nunca foi pacífica. Robert Allen Zimmerman– de seu nome verdadeiro -, o franzino adolescente judeu que passava as férias de Verão no Herzl Camp, em Devil's Lake, Wisconsin, haveria de ocultar as origens sob o nome artístico que o consagraria.
Em 1978, quebrando as rígidas e auto-impostas barreiras de defesa da sua privacidade, Bob Dylan anunciou ao mundo que se convertera ao cristianismo. O recém-adquirido estatuto de “cristão renascido” transbordou para a carreira musical, chocando o seu público e os críticos. Passou apenas a compor temas religiosos e produziu três álbuns inspirados pela linguagem do gospel: Slow Train Coming (1979), Saved (1980) e Shot of Love (1981). A crítica não lhe perdoou a trilogia e profetizou-se o fim da célebre “nascente de talento” de Dylan, como um dia lhe chamara Phil Ochs.
Talvez influenciado pela reacção negativa à sua conversão musical, Bob Dylan abandonaria o cristianismo em 1983, regressando ao judaísmo, desta vez como praticante. Começou a recusar fazer concertos ao sábado e dedicou-se ao estudo da Cabalá, muito antes desta se tornar moda entre as estrelas da música e do cinema.
Nesse mesmo ano, lança o álbum Infidels, selando definitivamente o corte com o cristianismo e o regresso ao judaísmo. É daqui que sai Neighborhood Bully, a canção desta edição das Músicas da Judiaria. O rompimento com o cristianismo é flagrante especialmente na letra iconoclasta da canção Man of Peace.
Desde então, Bob Dylan apareceu por diversas vezes na famosa maratona televisiva L’Chaim/To Life, organizada anualmente nos EUA para recolher fundos para o Chabad Lubavitch, um movimento ortodoxo judaico com uma forte componente mística. Em finais de Setembro último, Bob Dylan foi visto nos serviços de Yom Kippur da sinagoga ortodoxa Adath Israel, em St. Paul, no Minnesota.
Bob Dylan com kippá, tallit e tefilin, adereços litúrgicos judaicos, frente ao Kotel, o Muro das Lamentações, em JerusalémMas quem for ler a sua nova autobiografia à procura de mais revelações sobre a espiritualidade de Bob Dylan certamente ficará desapontado. Por enquanto, no primeiro de três volumes, o cantor limita-se a escrever essencialmente sobre a faceta da sua vida que mais fascinará os seus seguidores – a sua carreira musical.
Recentemente, Like a Rolling Stone, da sua autoria, foi escolhida como a melhor canção de rock ‘n’ roll de todos os tempos pela revista norte-americana Rolling Stone. “Nenhuma outra canção pop transformou e desafiou de forma tão profunda as leis comerciais e as convenções artísticas da sua época, e de todas as épocas”, escreveu a revista.
A autobiografia resgatou-o também do exílio mediático que Bob Dylan impusera a si próprio. No domingo passado, Dylan foi entrevistado pelo jornalista Ed Bradley para o programa 60 Minutes, da CBS, naquela que foi a sua primeira entrevista televisiva em duas décadas. Um excerto da entrevista pode ser visto aqui (formato Windows Media™).
Entretanto, enquanto não há tradução portuguesa do Bob Dylan Chronicles: Vol. One, vale a pena clicar no link para as Músicas da Judiaria e ouvir (e ler) Neighborhood Bully.