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segunda-feira, janeiro 24


Viajar no Tempo,
ou Interlúdio de Elogio Familiar


Durante os meus quase 10 anos de vida em Los Angeles dei por mim muitas vezes a questionar a validade desta minha opção. De vez em quando, em conversas com amigos, era frequentemente recordado da frase lapidar de Woody Allen referindo-se a Los Angeles numa cena de Annie Hall: “Porque raio queres tu viver numa cidade cuja única vantagem cultural é poder virar à direita num sinal vermelho?” Woody Allen, um nova-iorquino, fazia por instigar a velha rivalidade entre as costas americanas. Sou obrigado a confessar que na maior parte dos dias Woody até tem razão. Mas dizer mal de Los Angeles é demasiado fácil. Até porque há sempre felizes excepções a esta regra que nem sequer o é.
Sábado à noite foi uma dessas ocasiões – fui até ao Getty Center assistir a um concerto de música antiga perfeitamente delicioso: Elaborate Measures: Performing the Orient. Pode mesmo ser deformação que quem estuda eternamente a História, mas poucas coisas dão mais prazer do que ouvir música escrita há séculos. Sons que ouvidos antigos ouviram. A culpa foi inteiramente do meu cunhado, Avi Stein, brilhante tocador de cravo e membro do La Monica, o ensemble responsável pelo concerto. Enquanto as leis da física continuem a impossibilitar que se viaje no tempo (aparentemente?), aquelas horas foram um substituto quase perfeito.
תודה רבה אבי

PS –By the way, em Los Angeles (e em toda a Califórnia) pode-se mesmo passar um sinal vermelho para virar com o carro à direita. Em Nova Iorque não...


A Invenção do Orientalismo – O Concerto da Concubina do Grão-Turco - Carle Vanloo, 1737.