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quinta-feira, janeiro 8

Antisemitismo e Sondagens
Eurobarómetro: Como Influenciar Sondagens
No País Relativo Pedro Machado escreveu um texto bem interessante sobre a polémica que estalou entre o comissário europeu Romano Prodi e os presidentes do Congresso Mundial Judaico, Edgar Bronfman, e do Congresso Judaico Europeu, Cobi Benatoff, da qual demos conta em dois posts anteriores (aqui e aqui). Reconhecendo a necessidade de combater o antisemitismo, Pedro Machado insurge-se contra o artigo de opinião assinado pelos dois líderes judaicos no Financial Times (que reproduzimos aqui na íntegra), classificando-o como uma oportunidade perdida. Mas a minha intenção não é rebater a opinião do Pedro sobre a carta, apesar de não concordar inteiramente com ela. O que me leva a escrever prende-se com a recorrente questão da polémica sondagem Eurobarómetro, publicada em finais de Outubro. Diz o Pedro:
(...)Depois, o famigerado Eurobarómetro: que os cidadãos da União Europeia considerem que Israel é a maior ameaça à paz mundial são resultados de uma sondagem. Podem considerar-se injustos, incorrectos, o que se quiser. Mas que queriam os líderes judaicos? Que a esses fosse dado o mesmo destino daquele dado ao estudo? Ou seja, cancelar a publicação dos resultados? Afinal, em que é que ficamos? A censura seria a boa receita para estes, mas a abjecta solução para aquele?

Entre aqueles que fazem pesquisas de opinião pública há uma expressão bem interessante que reza assim: se não gostas dos resultados, faz outra sondagem. Quem alguma vez lidou com sondagens sabe como é fácil manipula-las, muitas vezes apenas com a simples formulação da pergunta – basta ver a polémica que rebenta cada vez que se pensa em fazer um referendo...
A questão da sondagem do Eurobarómetro levantada pelos dirigentes do CMJ e do CJE no citado artigo do Financial Times tem a ver, entre outras coisas, com os critérios da amostragem. De entre os países escolhidos (como?) para figurar no questionário – Israel, Estados Unidos, Irão, Coreia do Norte, Afeganistão, Paquistão, Síria, Líbia, Arábia Saudita, China, Índia, Rússia e Somália –, Israel é aquele que tem maior exposição mediática negativa nos media europeus, numa proporção talvez apenas comparável à dos Estados Unidos. Não admira, por isso, que Israel (59%) e os Estados Unidos (53%) tenham aparecido à cabeça dos resultados como “as maiores ameaças à paz mundial”. Ainda por cima, os inquiridos podiam escolher mais do que um país. Não é preciso nenhuma pós-graduação em estatística para perceber a palermice de tudo isto.
Respondendo ao Pedro Machado, a censura nunca é solução para nada e duvido que essa leitura possa ser feita, mesmo de forma implícita, no artigo de Bronfman e Benatoff do FT. Em vez de cancelar a publicação dos resultados, a sondagem devia ter sido feita, logo à partida, de uma forma honesta. Como? Sem listas, deixando os países alvo à escolha plena dos inquiridos, por exemplo.