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quinta-feira, janeiro 8

 Vital MoreiraVital Moreira Errou

No Causa Nossa, Vital Moreira escreveu uma entrada sobre o conflito israelo-palestiniano intitulada Crimes de Guerra, baseada integralmente – acredito que de forma totalmente inadvertida – numa notícia falsa.
Para ancorar o seu post, Vital Moreira cita esta notícia do Diário Digital – que na essência é um exemplo acabado de jornalismo vesgo e absolutamente incompetente. Um exercício de “pick and choose” com uma péssima tradução de um telex. Para comprovar o erro crasso da “notícia” citada basta ir aqui e ler a versão de um telex da AFP reproduzido pelo Khaleej Times, um jornal dos Emirados Árabes Unidos (que pode ser acusado de tudo menos de fazer favores a Israel). O Diário Digital traduz “the troops opened fire” por “soldados israelitas incendeiam campo de refugiados em Rafah”... O erro pode ser confirmado com a leitura de outra notícia sobre o mesmo caso (Israel troops kills Palestinian in Rafah) no HiPakistan.com, um site paquistanês. “Fazer fogo” e “lançar fogo” não são, nunca foram e nunca serão a mesma coisa.
Além de totalmente incompetente na tradução, o(a) jornalista do Diário Digital revela-se também desleixado(a) com os factos envolventes: “According to the sources, the man was killed during an exchange of fire between IDF troops and armed militants in the Tel Sultan neighborhood close to the Egyptian border”, lê-se ainda no diário israelita Ha’aretz.
A morte de alguém, ainda por cima nestas circunstâncias, é sempre um acontecimento arrepiante e aterrador e nunca pode ser minimizada. Mas o que estou aqui a discutir são os factos, o mau jornalismo e a diferença entre dois “fogos” semanticamente inconciliáveis.
A ocupação e as suas nefastas consequências – no que toca aos direitos humanos e não só – são factos inegáveis que, por isso mesmo, merecem ser discutidos e analisados com base num jornalismo responsável.
Para que conste, acredito plenamente que Vital Moreira errou sem a mínima noção de que o fazia. Aliás, admiro-o por ser um homem frontal, com quem tendo a concordar quase por regra – como aconteceu nos últimos dias com a polémica que tem travado em torno dos véus islâmicos em França (ver o meu post sobre o tema, O Véu, o Kippah e a Cruz, de 12 de Dezembro).
Resta dizer que não sou um “fã de Sharon", bem longe disso, e não estou com isto a defender o que sempre achei, e continuarei a achar, indefensável. Basta uma passagem de pelos links à esquerda, e pelos posts passados, para perceber de que lado está o autor deste blog. Sou de Esquerda. Nunca o escondi. E de Esquerda sou também na questão do conflito israelo-palestiniano. É por isso que me custa profundamente que a Esquerda europeia prefira elogiar a “obra social” do Hamas a apoiar abertamente – com palavras e actos – a Esquerda israelita (e não estou a falar apenas dos Trabalhistas), num jogo de manicaismos, silêncios e ataques que solidifica a cada passo a posição de Ariel Sharon. Como nós portugueses sabemos bem por causa própria (e nossa), o grito de “orgulhosamente sós” sempre funcionou como arma eficaz de propaganda.